domingo, 11 de setembro de 2011

A Rádio não disse, a Televisão não mostrou:

A Rádio não disse, a Televisão não mostrou, não porque não fosse um dos maiores momentos políticos do País ou que em matéria cultural fosse uma Festa muito inferior às de outros anos... simplesmente não interessa mostrar o vigor desta grande Festa e do grande colectivo partidário que é o PCP.

Não deixa de ser até irónico, a roçar o sádico o destaque que foi dado pela comunicação social ao Congresso do PS. Momento de fantochada do sistema, onde o Seguro, o  fantoche do sistema que serviu de abutre na noite das eleições legislativas e que agora carregado em ombros tenta fazer  de pipo para esvaziar a pressão existente em Portugal e assim evitar a contestação já existente, encenava a cada gesto uma manobra de diversão. Ele era vê-lo a deslocar-se até à comunicação social e a cumprimentá-los!

Quanto ao servir de pipo eu pessoalmente não tenho duvidas nenhumas, veja-se o Mário Soares cheio de emoção. Pudera este rapaz acalma os ânimos e assim tudo continua supostamente bem na pequena democracia burguesa que ajudou a erguer. 

Mas voltando ao inicio; não quiseram mostrar, mas há quem tenha profissionalismo no jornalismo. Deixo aqui um artigo do Jornalista do DN, Pedro Tadeu. O mesmo que foi perseguido por causa do conhecimento que tinha das escutas telefónicas em torno do processo "Casa Pia" e talvez mais algum.

O que eu aprendi com a Festa do Avante
 Ao longo da vida, aprendi várias coisas com a Festa do Avante!, onde este fim-de-semana não fui. Comecei, na adolescência, por sentir como é emocionante ouvir música amplificada em milhares de watts eléctricos soprados ao ar livre, coisa então rara de se ouvir em Portugal. Descobri que havia muitas músicas, de muitas partes do mundo, a soar tão ou mais excitantes do que o rock que tocava no meu gira-discos. Entendi, assim, como era diverso o planeta.
Vi divertirem-se, juntos, velhos e novos, pais e filhos. Olhei, pela primeira vez, com atenção, para uma exposição de pintura. Bebi, desconfiado, um cocktail taino. Provei sopa de cação. Namorei deitado na relva. Foi ali que um tipo, que não conhecia e me chamava camarada, me convenceu a cortar o cabelo à escovinha na véspera de eu ir para a tropa.
Trabalhei alguns meses no gabinete de projecto da Festa do Avante!, comandado pelo engenheiro e recordista da resistência à tortura do sono, Fernando Vicente, e pelo grande artista plástico Rogério Ribeiro. Ali imaginei o que seria ser Deus antes do Génesis e soube como o desenho numa planta de arquitecto se transforma num painel, numa canalização, numa rede eléctrica, num balneário, num camarim, num jogo de bandeiras decorativas, numa exposição, num palco, numa tasquinha, num pequeno mundo complexo, num ecossistema de três dias preparado para receber meio milhão de pessoas.
E, depois, calhou trabalhar com Ruben de Carvalho, o homem mais impressionante que já conheci, pensador e produtor por 35 vezes do programa cultural deste festival, um recorde do mundo. Com ele aprendi ser sempre mais difícil decidir quem actua a meio da tarde do que escolher quem encerra a noite. Vi como era preciso ter coragem para dizer não a músicos ligados ao PCP, que caíam na tentação de querer transformar a festa de todos numa coutada exclusiva.
Aprendi como se fabricam as grandes ideias e as dezenas de horas de discussão redonda, esgotantes, que é preciso ter para lá chegar. Vi como surgiram os filões das músicas brasileiras, folk ou africana, sempre um pouco à frente das modas em que elas depois se transformaram, e registei como aconteceu a que agora é marca definitiva do evento: o grande concerto de música clássica.
Na Festa do Avante! ensinaram-me, como a muitos outros, o essencial do que me transformou num profissional bem-sucedido: é preciso entender o quadro geral de um problema e dar importância aos detalhes que fazem a diferença.
Ali aprendi, portanto, que a cultura, afinal, é mais importante do que a política... Não é, Ruben?