30 de Abril de 2010; mais um dia como tantos outros. Acordo com as preocupações do costume. Hoje é dia para ir ao ACT ver se avanço com o problema do rapaz ucraniano.
Como de costume, ligo a tv para ouvir as noticias da manhã e dou por mim a ouvir que o António Feio morreu.
Não era propriamente fã, mas reconheço o seu enorme valor enquanto actor. Para além disso é daquelas pessoas que se lembramos em diversos projectos que fomos assistindo enquanto crescemos e vivemos.
Recordo sobretudo a piada dos "vincos nos tomates" que andou de boca em boca quando estreou a "Conversa da Treta" e aquelas noites maradas que passávamos a ver o "Paraíso Filmes" na Tasca do Tabacão. Filmes produzidos numa produtora independente situada na Trafaria e realizados por um carocho numa loja de louças para casa de banho; ideia de génio.
Aprecio a coragem do Feio. A coragem com que assumiu a maldita doença e que com que a enfrentou, não esperando por nenhum Deus ou milagre. Como ele próprio disse: " Deus está distraído, se não estivesse não existiam as desgraças que há para aí e que se fosse bom não as permitia".
No entanto a noticia da morte do António Feio mexeu comigo de outra forma. Relembrou-me que estou a escassos dias do aniversário da morte do meu pai. Lembrou-me do que é o cancro e de como faz sofrer quem o tem e quem está à sua volta.
Tinha 17 anos quando passei pelos 6 meses mais difíceis de gerir psicologicamente que me lembro. Desses 6 meses os últimos 2 foram autentica tortura psicológica... maldita doença que continua a fugir à descoberta de uma cura.
Esse período de tempo é responsável por algumas características que boas ou más fazem a minha personalidade.
Quando vi passarem em diferido na tv uma entrevista ao António Feio, vi nos olhos dele o que via nos meus nessa altura e senti que ele tinha aquele nó de garganta que se segura ao máximo para não dar o braço a torcer.
Embora este seja um "Dia Feio" que me faz lembrar algumas situações amargas, prefiro considerá-lo como um dia que me fez recordar e reflectir antes do tempo.