quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Agonização na luta de classes.

Esta semana ficará certamente marcada para muitos como a a semana da aprovação do Orçamento de Estado.

Quanto a esta matéria não vale a pena alargar-me muito. infelizmente, já há muito tempo que se sabia que embora existisse muita agitação à volta da encenação criada pelo PSD que o Orçamento iria ser aprovado.

Já o ditado popular diz: "Os cães ladram, mas a caravana passa". E como não havia a caravana passar, se este Orçamento é um orçamento à boa moda da  direita?

Não pode ainda ser descurado o oportunismo do PSD, que consegue de forma dramática ranger os dentes, chorar, jurar amor à Pátria e por fim, a "bem da Nação", abster-se no Orçamento com argumento  de ter sido melhorado e da sua aprovação ser vital para o desenvolvimento do País. 

Enfim, tretas de quem já só pensa em alcançar uma maioria absoluta, reforçada pelo velho objectivo da direita portuguesa, de ter um Presidente e uma maioria parlamentar de direita.

O Presidente da República por sua vez, homem ponderado e cujo o único partido é Portugal (IRONIA), dá mais umas cartas na sua campanha eleitoral sem outdoors, mas paga por todos nós.

Noutras alturas não apareceu para cumprir impor o cumprimento da constituição e agora é vê-lo todos os dias a trazer lições de ética e moral aos portugueses.

No entanto este Presidente que na verdade não é de todos os portugueses, porque exerce o seu mandato em beneficio de uma minoria e não da maioria, o Presidente da Crise, porque foi ele que não interveio para a bloquear, veio agora tentar demonstrar que é um homem do séc XXI.

Colocou então, alguns comentários ao Orçamento e à sua discussão na Assembleia da República, na sua página no facebook e no Twitter.

Sinceramente, não havia necessidade de tal exibicionismo de baixo custo! A entidade superior em Portugal, banaliza as suas palavras e as suas intervenções em simples comentários de internet.
A figura de Presidente da República não merecia de facto tal desconsideração.

Lamentar que para este fediver tenha tempo e aos trabalhadores da Platex, se tenha limitado a agradecer a recepção de uma carta de apelo à sua intervenção.

Mas falemos  daquela realidade que os trabalhadores portugueses sentem todos os dias no seu trabalho, porque enquanto na AR, PS e PSD trocam galhardetes em como agonizar as condições de vida dos trabalhadores, cá fora sentem-se todos os dias os efeitos das suas politicas.

Esta semana já tive contacto com três casos, em três empresas distintas, em três distritos diferentes e que numa coisa se equiparam: pelo não cumprimento da legislação e pelo desrespeito pelos direitos de quem trabalha.

Em Beja, tive contacto com uma empresa que não discute com os trabalhadores a marcação de férias e que mais grave, se recusa a aceitar justificações de acompanhamento de mulher grávida a consultas pré- natal. Empresa Multinacional Espanhola.

Em Évora , a mesma empresa que se recusa a deixar os trabalhadores gozarem, 22 dias úteis de férias e que em breve irá ser condenada em tribunal por esse acto e obrigada a pagar em triplicado os dias que não concede, teve mais uma atitude autoritária.
Desta vez a empresa serviu-se do facebook de uma trabalhadora para instalar um processo disciplinar com intenção de despedimento a esta mesma trabalhadora. Alega a empresa que a trabalhadora não cumpriu com o dever de lealdade para com a empresa, pelo facto de embora não ter citado o nome da empresa, ter no seu perfil efectuado alguns comentários sobre a administração da empresa.
E é disto que temos,  até o direito à contestação nos tentam retirar. Empresa Multinacional.

Mas para que não se pense que só as Multinacionais é que praticam esta barbárie, por fim termino com o exemplo de uma empresa de telecomunicações no concelho de Coruche.

A empresa a que me refiro, desde sempre realiza atropelamentos em matéria de categorias profissionais, salários, horários de trabalho, etc.

Se há algum tempo abusava na contratação a termo verto, por forma a manter os trabalhadores na incerteza sobre o seu futuro e assim condicionar a sua acção reivindicativa, agora realiza inúmeras contratações a termo incerto, agravando a situação anterior e mantendo estes trabalhadores 
(sobretudo jovens) a contrato até 6 anos.

Mas o conceito que os trabalhadores são descartáveis, toma peso de tal forma  nessa empresa que agora já se dão ao luxo de efectuar despedimentos sem fundamentos legais para o efeito.

Esta semana, a empresa em causa , atingiu o auge em matéria de precariedade, despedindo um trabalhador por este se recusar a realizar trabalho suplementar todos os dias, trabalho que ainda por cima não é remunerado.

A desfaçatez é tanta que o trabalhador tentou ainda falar com o "patrão" para que este não permitisse tamanha injustiça e o Sr. por sua vez deu-lhe a entender que como era um jovem e sem esposa ou filhos, podia bem satisfazer a vontade da empresa.

Desta forma bem pode a empresa em causa utilizar adjectivos requintados como o de "colaborador" para cativar os seus trabalhadores, porque na realidade a velha relação patrão/ trabalhador está bem definida.

O jovem a que me refiro decidiu tomar uma posição de coragem e irá lutar contra este despedimento e certamente irá ser reintegrado na empresa. Uma verdadeira atitude de coragem, contra o sistema.

Estes três exemplos são exemplos bem claros de como a luta de classes se têm agonizado nos últimos tempos. De um lado o patronato apoiado pelo governo e pelo outro os trabalhadores que mais conscientes e cada vez mais atacados pelos primeiros se vêem entre  a espada e a parede e desta forma lutam para preservar o que é seu.

Os comentadores do sistema falam na necessidade do consenso, no entanto ocultam que foi esse mesmo consenso que nos trouxe até ao buraco em que estamos.

Com o OE agora aprovado pelo PS e PSD, o ano de 2011 será um ano de austeridade para os trabalhadores portugueses, austeridade tal que certamente irá provocar as mais diversas jornadas de luta e reforçar a luta de classes, pois começa a ser impossível suportar não só as medidas do governo mas também o ambiente que se vive nas empresas.

Serão então os trabalhadores portugueses que irão castigar os mentores destas politicas e os que as põem em prática e construir um país melhor.