quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Platex Vitória anunciada, mas a luta continua.

Passado um ano desde que conheci a Platex e o processo de luta desenvolvido pelos seus trabalhadores, a saga parece estar a chegar aos últimos episódios.

Na minha primeira visita à Platex fui bem recebido por mais de 100 trabalhadores que confrontados com a visão de um despedimento colectivo, que os iria deixar como tantos outros na extensa lista do desemprego em Portugal, lutavam corajosamente para que alguém lhes prestasse atenção e os apoiasse na viabilização  daquela unidade que embora estivesse economicamente degradada  (insólito que devia ser investigado judicialmente) era financeiramente viável.

No âmbito politico-sindical o processo foi bem conduzido por parte dos diversos sindicatos envolvidos. Os trabalhadores foram responsabilizados pela sua luta e aderiram a ela com todo o empenho.

Foram diversas as acções de luta desenvolvidas para que a Platex não caísse no marasmo do  esquecimento. Os apelos aos responsáveis políticos e consequentes deslocações até aos Ministérios do Trabalho e Economia, Governo Civil, Assembleia da República, Palácio de São Bento e Câmara Municipal de Tomar, foram sempre na máxima força, nunca tendo os trabalhadores desarmado das suas convicções, embora por vezes até tenham sido mal recebidos, como foram os casos do Ministério do Trabalho onde até hoje se espera uma reunião com a Sra. Ministra e na Assembleia da República onde foram recebidos por um cordão policial que mais parecia que daquela visita dependia toda a segurança interna de Portugal.

A Voz da luta dos trabalhadores da Platex fez-se ainda ouvir numa carta aberta ao Sr. Presidente da República ( a qual recebeu uma resposta ridícula), pela voz do Grupo Parlamentar do PCP, nas Manifestações do 1º de Maio e em muitas outras gloriosas jornadas de luta como foi o caso da manifestação de 29 de Maio de 2010 que reunião mais de 300 mil pessoas num voto de protesto contra as injustiças das politicas de direita no nosso país.


A célebre palavra de ordem: "Cremos trabalhar na Platex de tomar!", tornou-se num verdadeiro grito de revolta!

No entanto a resposta dos responsáveis políticos foi insuficiente se tivermos em conta os milhões de euros que o estado entregou de mão beijada ao BPN, ao BPP e ao Grupo Amorim.

Estado que a pedido dos trabalhadores devia ter nacionalizado a empresa e poupado a Segurança Social a pagar milhares de euros de subsídios de desemprego e ainda arrecadando muitos euros para os cofres públicos, pois a Platex era a única empresa da Península Ibérica que produzia este tipo de matéria prima e sobretudo porque exportava 70% da sua produção.

Depois de intensas negociações com o Grupo que pretende reactivar a fabrica, na passada segunda feira foi aprovado em plenário de trabalhadores uma acta que indica as contrapartidas para os trabalhadores, caso estes votem favoravelmente o plano de insolvência.


Não vou assumir que fiquei satisfeito pelo acordo conseguido, enquanto sindicalista e enquanto comunista acredito e defendo que só o pagamento da totalidade dos créditos em divida aos trabalhadores seria justo. No entanto com a conjuntura politica e social  que o país atravessa, considero que caso a Platex volte a trabalhar, como tudo aponta até ao momento, esta é uma vitória dos trabalhadores, do movimento sindical unitário e sobretudo um exemplo de como é possível vencer uma batalha, mesmo nas condições mais adversas e quando a luta parece perdida.

Lamento profundamente que para salvar postos de trabalho sejam os trabalhadores os mais sacrificados, mas saliento sobretudo a sua determinação na vontade de não abdicar de um direito constitucional como é o direito ao trabalho,por darem um contributo determinante para a soberania do aparelho produtivo nacional e regional e por não caducarem o futuro de gerações que assim poderão continuar a contar com 105 postos de trabalho.

Este colectivo de trabalhadores aprendeu durante a sua luta, as regras da democracia: votaram de braço no ar, participaram em debates, sessões públicas e manifestações, exigiram responsabilidades de quem governa e por fim decidiram o  seu futuro... uma verdadeira lição de coragem, determinação e de vontade de tomar o futuro nas suas mãos.

Por último uma palavra de apresso aos delegados sindicais que não desarmaram nem por um segundo, que organizaram autocarros para as diversas iniciativas, que mobilizaram e ajudaram a manter a unidade dos seus camaradas de trabalho.

Um ano depois o processo parece estar a chegar ao fim, com uma vitória do trabalho. Mas a luta continua!