terça-feira, 15 de maio de 2012

Auschwitz

Na última semana tive o prazer e o privilegio de participar na delegação portuguesa do Comboio dos 1000.
Esta Iniciativa promovida pela Federação Internacional dos Resistentes (FIR) e contou com a presença de 108 jovens portugueses que a convite da União dos Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) aceitaram juntar-se a muitos outros jovens de toda a Europa, numa viagem de comboio com o intuito de não deixar apagar as monstruosidades do eixo do mal fascista e de homenagear os resistentes, as vitimas e os sobreviventes.

O comboio dos 1000 partiu directamente de Bruxelas no dia 5 de Maio, tendo a viagem até Cracóvia demorado 31 horas, mas sempre num clima de alegria por poder participar numa iniciativa tão importante como esta.

Importante sobretudo porque tal como José Pedro Soares, resistente antifascista da URAP que acompanhou a delegação portuguesa, salientou no contacto que teve com as diversas delegações, há muitos que tentam apagar e branquear os horrores e o sofrimento que o fascismo infligiu na Europa e no mundo.
Existe novas frentes fascistas que chegam ao descaramento de mentir e negar a existência de genocídios pelo nazi- fascismo, outros como em Portugal,  tentam dizer que o nazi-fascismo foi uma coisa e que o fascismo noutros pontos da Europa era outro.

Veja-se as declarações do Presidente da Câmara Municipal de Santa Combadão aquando lançamento da marca de vinhos "Salazar". Dizia que Salazar nunca roubou o povo. Como se ladrão fosse aquele que só rouba para si.

Durante 48 anos o fascismo do Estado Novo roubou para os monopólios, para a banca e para os grandes agrários. E roubou muito ao ponto de haver fome e miséria.

Também não foi diferente do nazi- fascismo no que toca aos campos de concentração, às prisões politicas, às torturas, aos homicídios por espancamento, falta de assistência ou simplesmente por tiro à queima roupa.

Um regime criminoso que pactuou com todos os outros regimes fascistas aceitando inclusive trocas comerciais e de armas que eram pagas com ouro proveniente das vitimas dos campos de concentração.

Mas voltemos ao comboio e a Auschwitz.

Auschwitz foi o maior campo de extermínio da Europa. Era composto por 3 campos principais e por mais de 2o pequenos sub-campos.

Estes não eram nem nunca foram campos de trabalho forçados, eram campos de extermínio. Quem para lá entrava era-lhe à partida logo indicado quanto tempo de vida tinha.

Estima-se que em Birkenau, o segundo campo de Auschwitz, tenho perdido a vida 1 milhão de judeus. Só judeus, para não falar dos muitos presos políticos, militares soviéticos, ciganos e criminosos comuns.

Mais uma vez recordar que foi o maior campo de extermínio mas não o primeiro nem o único.

Na verdade o que este campo teve de novo foi o grau de violência e desumanidade com que se passou a assassinar em massa seres humanos.

As mortes davam-se através de um processo racionalizado tal como numa grande fábrica. Cada nazi cumpria apenas uma única e simples tarefas, nunca sendo criadas as condições para que ganha-se qualquer problema de consciência.

Isto sempre associado a uma ideologia com convicções provenientes no determinismo biológico do séc XVIII, o que dava aos nazis um enorme sentimento de cumprimento do dever sempre que eliminavam directamente qualquer prisioneiro.

No inicio, os primeiros prisioneiros e sobretudo os judeus eram convencidos de que iriam ser recolocados noutras terras, onde poderiam trabalhar e viver, como foi exemplo o Gueto de Varsóvia.  No entanto tal como no Gueto não viveram, muito menos os que se seguiram tiveram melhor sorte.

Isso mesmo lhes diziam a entrada de Auschwitz onde se podia ler que "O trabalho liberta", infelizmente não se conhece alguém que tenha sido libertado por trabalhar. 

Convencidos e na esperança de viverem melhor, recolhiam os seus pertences  e chegavam a pagar os seus próprios bilhetes de comboio em 3ª classe. Foram enganados até ao fim.

Depois começaram a ser  transportados aos molhes em vagões de carga para que não pudessem fugir como alguns fizeram.

Cada vagão transportava cerca de 70 pessoas, apertadas, no escuro, sem qualquer condição de higiene, sujeitas às adversidades climatéricas, com comida para 2 ou 3 dias quando na verdade a viagem durava pelo menos 5 dias.

Das 1000 pessoas que cada comboio costumava transportar e daí o nome da iniciativa, muitos morriam antes de chegar ao seus destino.

Os sobreviventes quando chegavam vinham em tal estado de choque que permitiam tudo e de uma forma geral realizavam o caminho de 1,5 km a pé até ao campo de extermínio sem qualquer tentativa de fuga ou de sobressalto.

Mais tarde e já em 1944 passaram a entrar directamente dentro do campo devido ao prolongamento da linha de ferro.

Já dentro do campo eram separados de todos os seus pertences e seleccionados por um médico. Para um lado iriam os homens que sobreviveriam mais uns tempos, para o outro as mulheres e por fim mulheres, crianças e idosos que não tivessem as condições necessárias iriam directamente para uma câmara com chuveiros falsos onde encontrariam o seu fim.

A estes e no fim de mortos eram retiradas as roupas e acessórios, cortado o cabelo e retirados todos os dentes de ouro.

Roupas e acessórias seriam vendidos mais tarde, o cabelo servia para a indústria têxtil (nomeadamente para a produção de fardas militares) e por fim o ouro dos dentes era derretido e fundido em barras para pagar armas e outras necessidades do império nazi.

Quem realizava todo este trabalho sujo, assim como a remoção dos cadáveres, limpeza das câmaras de gás e cremação dos cadáveres eram os "zonder commander", prisioneiros mas geralmente jovens de melhor saúde e que à partida sabiam que nunca iriam sobreviver devido ao que haviam presenciado.

Todos os dias morriam centenas só em Auschwitz. Nas alturas em que mais morriam os corpos chegavam a ser queimados ao ar livre junto à câmara de gás nº 4.

Os que iriam sobreviver mais algum tempo, eras-lhe directamente o tempo de vida que tinham. Judeus 3 meses, ciganos 5 meses e resistentes os soldados soviéticos 6 meses.

A própria comida diariamente fornecida, um naco de pão, alguma manteiga, uma tigela de água e uma tigela de sopa, estava calculada para enfraquecer até aos 3 meses, período onde os prisioneiros estariam tão fracos que eram assassinados.

Depois de separados os prisioneiros eram despidos, cortavam o cabelo, eram lavados com jactos de água fria, analisados, marcados com números passando a ser esse o seu novo nome e encaminhados até barracões onde ficariam a dormir. Barracões transportados directamente da Alemanha onde cumpriam a sua finalidade enquanto estábulos para cavalos.

Em cada barracão cabiam 52 cavalos, pernoitando neles cerca de 400 prisioneiros.

Os barracões eram abertos, o que tendo em conta que  os Invernos na Polónia chegam a temperaturas negativas de 30 graus, não era de admirar que todas as noites morrem muitos prisioneiros.

Todas as manhãs antes de saírem dos campos de extermínio os prisioneiros eram analisados, os que tivessem mais fracos eram os seus últimos minutos. Eram mortos a tiro, enforcados ou iriam até às câmaras de gás. Ao final do dia o mesmo processo repetia-se. 

Não valia a pena tentar fugir, pois os seus corpos estavam tão subnutridos e fracos  que em 3 dias seriam encontrados vivos ou mortos. 

Caso morressem prisioneiros durante o dia, os outros prisioneiros eram forçados a transportar os seus corpos de volta. Ninguém ficava para trás.... vivo ou morto.

Aliás essa era uma regra dos campos de extermínio. Eliminar todos e qualquer vestígio de mortes. Por isso mesmo aquando em 1945 o exército soviético se aproximava dos campos, os nazis optaram por matar tantos presos quanto possível e por fazer explodir todas as câmaras de gás quanto lhes foi possível.

Outra regra eram  assegurar que nunca seria possível vir a ter a certeza de quantos seres humanos foram mortos nos campos de extermínio. Para isso aquando os fuzilamentos eram utilizadas armas com silenciador e os números atribuídos a cada preso não eram seguidos, não lhe sendo possível atribuir qualquer ordem. 

As necessidades fisiológicas eram igualmente autorizadas duas vezes ao dia. Os prisioneiros entravam em grandes grupos nos barracões destinados para esse efeito, era-lhes dado alguns segundos e saíam imediatamente pelo outro lado.

No entanto o seu estado de saúde obrigava-os a que a maior parte das vezes andassem sujos devido a não conseguirem controlar durante o dia os seus dejectos.

Sádico era o facto  de os trabalhadores que trabalhavam na limpeza das latrinas serem os que passavam o seu dia mais tranquilo, uma vez que os guardas se recusavam a entrar nas mesmas.

Igualmente sádico o facto de enquanto saíam para trabalhar ou quando voltavam do trabalho, os prisioneiros verem a sua marcha acompanhada por uma banda a tocar.

Tudo se aproveitava como anteriormente foi demonstrado, no entanto a maior riqueza, a força do trabalho era explorada até o último suspiro.

Os prisioneiros de Auschwitz trabalharam de sol a sol até definharem, não só para o estado nazi mas também para aqueles que o suportavam economicamente, ou seja as empresas e monopólios ou alemães.

Estes foram de facto os principais responsáveis pela implementação dos diversos regimes fascistas, a eles interessava-lhes o imperialismo fase superior do capitalismo, para verem os seus interesses satisfeitos. Sempre numa óptica de mais lucro e de acumulação do capital a qualquer custo.

Mas Auschwitz não se ficava por aqui: julgamentos sumários seguidos de tortura, fuzilamentos ou espancamentos eram constantes no conhecido bloco 11, vulgarmente conhecido como bloco da morte. Algumas das torturas foram igualmente utilizadas em Portugal pela PIDE como são exemplos a tortura do sono, da fome e a tortura da estátua. Em relação a esta última eram enfiados para câmaras escuras com 1 metro quadrado, 4 prisioneiros de cada vez impossibilitado que noite após noite estes pudessem sentar-se e recuperar as suas forças.

As experiências médicas em prisioneiros eram outra realidade. Foi-lhes injectado todo o tipo de produtos, medicamentos e doenças. 

Nem as crianças se safaram a tal tratamento, sendo preferencialmente utilizadas as crianças gémeas. Aliás o médico que as utilizava como cobaia acabou por escapar-se, tendo acabado de viver a sua vida de forma recatada no Brasil.

O desespero e a falta de esperança chegava a ser tanto que muitos foram os que optaram por se suicidar lançando-se directamente contra as cercas electrificadas.

Enquanto uns sofriam e morriam, outros como o comandante dos militares em Auschwitz viviam tranquilamente com a sua linda mulher e filhos num condomínio dentro do campo de Auschwitz 1.

Muitos foram os que sucumbiram perante os horrores da besta fascistas, mas também é verdade que muitos foram os que resistiram mesmo dentro dos campos.

Os próprios zonder commander chegaram a organizar uma revolta falhada, mas que ainda assim conseguira destruir grande parte da câmara de gás nº 4 em Birkenau.

Muito se diz sobre os campos de concentração, muito já se viu em filmes que visam reconstruir o que se passou  nos mesmos, mas nada nos prepara para o que vemos quando somos confrontados com retratos de pessoas como nós e das suas vidas perfeitamente normais antes de entrarem para aquele inferno.

Da experiência do comboio dos 1000 retiro a confiança que as novas gerações terão a inteligência necessária  para que o mesmo não volte a acontecer.

No entanto o perigo espreita. Nos dias que atravessamos a retirada de direitos, a destruição das soberanias nacionais, o flagelo do desemprego, são tudo pequenos exemplos de peças que podem ajudar a construir uma verdadeira bomba relógio.

O fascismo não apareceu do nada.... foi construindo-se após a I Grande Guerra.


Resistir é a nossa obrigação, lutar pelo que é nosso e não permitir que a história volte a repetir-se pois essa repetição só interessa ao capital e esse não hesitara sempre que necessário para defender os seus interesses.

Resistir e não deixar cair no esquecimento foi o que os diversos jovens participantes na iniciativa do comboio dos 1000 se comprometeram e assim espero que seja.


Fascismo nunca mais!

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Ensaio sobre a Miséria

Muito já foi dito sobre a campanha que o Pingo Doce lançou no dia Internacional do Trabalhador, mas ainda muito há para dizer até pelo facto dessa mesma campanha ter sido lançada de forma selvagem mostrando bem o que o sr. Jerónimo Martins pensa do País e das dificuldades que os trabalhadores estão a passar; está borrifar-se.

Ao grupo Jerónimo Martins apenas interessa os lucros a conquistar para distribuir pelos accionistas. Isso mesmo já se tinha constatado quando o grupo transferiu a sua sede para a Holanda para pagar menos impostos.

E é normal que assim seja, está-lhes na essência. Eles são o capital, cegam por lucros, não têm pátria, vivem à custa da exploração e para isso desenvolvem todo o tipo de artimanhas para a desenvolver.

Ontem no Jornal da Noite dizia o director geral do Pingo Doce que esta era uma campanha que apenas foi lançada porque o grupo Jerónimo Martins pretende ajudar as pessoas afectadas pela crise.

Assim é demais, é preciso não ter pingo de vergonha!

Se o grupo realmente quer ajudar  a combater a crise, primeiro não deslocalizava a sua sede e pagava impostos em Portugal contribuindo assim para a redução do défice e em segundo e num sinal de consciência e de responsabilidade social, até porque estava-lhe facilmente ao alcance, aumentava os baixos salários dos seus trabalhadores.

Mas isso obviamente eles não fazem.

Esta foi uma campanha publicitária enormíssima, coisa que o aumento dos salários ou com o manter a fixação da sede em Portugal não aconteceria. 
Para além disto a abertura no feriado do Dia Internacional do Trabalhador tem um cunho ideológico enormíssimo. 
Assim dá-se um sinal que já não interessa a afirmação da importância do trabalho na sociedade e dos  direitos de quem trabalha, como se esse assunto fosse de um passado longínquo e não uma questão bastante actual.

Mas se em relação à campanha não me admira  que o Pingo Doce avança-se com ela, igualmente não me admira a reacção das pessoas.... embora lamente profundamente.

Num ambiente de crise profunda, onde muitas famílias fustigadas pelo desempregou ou que simplesmente viram o seu poder de compra afectado pela subida do custo de vida, que as pessoas procurassem  "desalmadamente" encher os carrinhos para que o vencimento estique mais um pouco.

Mas a questão volta a ser a mesma, se o Pingo Doce e como é natural previu a adesão em massa aos supermercados  ao ponto de reforçar a segurança, onde está a sua responsabilidade social ao permitir acontecimentos deprimentes como a violência entre clientes, o excesso do volume de trabalho dos seus funcionários ao ponto de no dia de ontem haver alguns que nem eram capaz de abrir sacos de plástico, o expor esses funcionários a situações desagradáveis e até a situação de pré- estado de sitio onde se chega a oferecer 20€ por um carrinho (Santarém) ou onde  se retirava compras do carrinho de outras pessoas.

Em relação ao que pude assistir através das imagens nos jornais e televisões parecia-me um dejávu.

Lembro-me no "Ensaio sobre a cegueira" de José Saramago, de uma altura em que os cegos descobriram a  arrecadação repleta de alimentos de um supermercado vazio.
Foi o caos e a confusão. Lutavam e atropelava-se ao ponto de matar sem qualquer remorso e estragando mais que o que comeram.

Já anunciou o Pingo que vai repetir a experiência pois foi muito proveitosa! Aposto que sim, estimular o consumo desnecessário acaba por ter os seus resultados. Que belos beneméritos!

Lamentável é que mais uma vez a ASAI que para os pequenos tem tanta força, não tenha força suficiente para castigar este acto  digno de corsários financeiros.

Em relação aos partidos políticos ,PSD e o CDS continuam a dar cobertura ultraliberal que os caracteriza e o PS nem pestaneja. Falam do 5 de Outubro e do 1º de Dezembro , mas do 1º de Maio nem uma palavra.

Realmente viver assim não custa! Viver à custa da miséria alheia é no Pingo Doce.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Maio Saiu à Rua.

 Embora a pressão e a a desinformação ideológica seja muita, felizmente hoje não é preciso comemorar o 1º de Maio como tiveram que comemorar muitos trabalhadores durante os 48 anos da ditadura fascista em Portugal.

A foto abaixo mostra-nos ainda assim a força e a determinação dos trabalhadores do Couço, que embora soubessem que estavam a ser  vigiados pela PIDE (em  sob o pretexto de uma pescaria) não deixavam de comemorar o 1º de Maio, montando eles inclusivé as suas próprias defesas como se pode ver nos homens em cima da ponte que observavam  os PIDE's.

Foto de 1962, meses antes da conquista das 8 horas de trabalho. Assim não admira que fosse possível conquistar as 8 horas de trabalho, eram muitos a desafiar o patrões os agrários e os fascistas se é que podem ser dissociados uns dos outros.


 Mas se no passado foi assim, no presente o descontentamento e a vontade de lutar por um futuro melhor não param de crescer, tendo dado este ano  forma e cor às maiores manifestações do 1º de Maio dos últimos anos.

Em Santarém não foi diferente e este as comemorações do 1º de Maio foram as maiores dos últimos anos.
Para além das iniciativas que reuniram dezenas de crianças, a manifestação foi um sucesso e comprovou que  que no distrito há muita gente disposta a lutar e  é possível  a unidade e a convergência de esforços para vencer este governo e a sua politica ultraliberal de destruição das conquistas do 25 de Abril.

Confesso que embora a chuva da manhã tenha-me assustado este veio a revelar-se um grande 1º de Maio e que para mim teve um sabor muito especial pelo facto de ser o meu 1º de Maio com as tarefas que tenho na União dos Sindicatos de Santarém.

Ficam algumas fotos para que quem não participou perceba a dimensão da iniciativa e para tentar que percebam que estar na rua é lutar por nós e pelo que é nosso, é dizer não há miséria e por isso que aceite juntar-se a nós no próximo 1º Maio.

Viva o 1 de Maio!