quarta-feira, 18 de agosto de 2010

17 de Agosto.

O dia 17 de Agosto corresponde ao feriado municipal no concelho de Coruche. Esta é uma data em que tradicionalmente a Vila de Coruche se enche de munícipes vindos das freguesias, imigrantes e forasteiros, para verem o habitual cortejo etnográfico dedicado às tradições coruchenses e ao trabalho da forma como antigamente se realizava.

O cortejo é realmente um dos momentos altos das festas de Coruche, sobretudo tendo em conta que é realizado com a participação voluntária de homens, mulheres e crianças, que na sua maior parte ligados aos associativismo local, continuam a demonstrar as tradições e o esforço que os trabalhadores coruchenses tiveram ao longo de anos.

No entanto dois pormenores me assaltaram a consciência este ano.

O 1º desses pormenores prende-se  com alguns carros onde crianças bastantes novas, encenavam que estavam a trabalhar. Dura realidade essa que até à  poucos anos existia aos olhos de todos nas fábricas de calçado a norte do país.  Felizmente que o flagelo da exploração infantil diminuiu em Portugal e que agora mais crianças estão a ocupar o seu tempo onde sempre deveriam ter ocupado; na escola. 
 Mas as dificuldades das famílias têm aumentado bastante nos últimos anos e aquelas cenas de crianças a trabalhar, podem em breve deixar de ser imagens do passado e passarem a ser  o espelho de um futuro bastante próximo, onde os pais desamparados e sem dinheiro para pão se vejam forçados a empurrar os seus filhos para o trabalho infantil.

O 2º pormenor  foi a grande quantidade de cavaleiros e campinos que participaram no cortejo.
É verdade que os campinos são um dos símbolos do Ribatejo e que a vida ligada ao gado bravo faz parte das tradições deste concelho, mas não se estará a cair no exagero?
Os campinos e os cavaleiros geralmente pertenciam a grandes casas agrícolas, que agora são bastante valorizadas como uma das imagens de marca do concelho, mas também eram muitas vezes os proprietários dessas casas, os grandes senhores do latifúndio no Ribatejo.
Não se começará a dar demasiada importância a quem criou uma fortuna sobretudo à custa da exploração daqueles mesmos trabalhadores que se tenta homenagear no cortejo?

É importante que não se confunda "alhos com bugalhos", porque os operários agrícolas não estavam no mesmo patamar que os latifundiários, bem pelo contrário e isso ficou provado aquando a concretização da reforma agrária. 

Já fora do contexto do cortejo e das festas de Coruche, o dia 17 de Agosto de 2010 ficará ainda marcado como o dia em que Portugal viu um fio de justiça.

Após 2 atrasos na leitura da sentença, Mário Machado (líder  do movimento hammerskin em Portugal) foi condenado a 7 anos e 2 meses de prisão juntamente com mais um conjunto de neo-nazis que  foram condenados com penas entre os 9 meses e os 10 anos de prisão.

Infelizmente para o nosso país estes criminosos políticos que assaltam, traficam armas e droga, aterrorizam, raptam, agridem e matam por ódio e intolerância, dentro de alguns anos estarão em liberdade novamente. Liberdade essa liberdade palavra que se lhes fosse possível riscavam do dicionário.


A liberdade que durante anos negaram ao povo português através da ditadura fascista de Salazar que por sua vez obrigou a milhares de crianças a terem que trabalhar em vez de frequentarem a escola, tal como os meninos que desfilavam no cortejo.

Não tendo esta sido a condenação mais justa, não deixou de ser um passo na luta pela liberdade e democracia de Portugal.
Por fim é importante lembrar que embora se tenha feito justiça a 17 de Agosto de 2010, muitos fascistas (criminosos) estão em liberdade e a conspirar contra a democracia exaltando valores e costumes que nada de bom podem trazer ao povo português, chegando  por vezes até a ter acento em órgãos democráticos do pós 25 de Abril, com o intuito de conspirar e destruir o que o suor dos trabalhadores (representados no cortejo) construiu.

17 de Agosto... um dia a não esquecer pelos antifascistas portugueses.